Ora bolas! Também não é assim tão má...
A Emiéle, do Afixe, desfere um terrível ataque contra a burocracia. Chama-lhe "polvo", "hidra", "empata" ( que era o que se chamava na escola aos meninos que não nos deixavam ensaiar técnicas de reprodução - e era bem feito!), enfim, destrói de uma penada o que deu tanto trabalho a construir.
Ao contrário da insigne bloguista, eu acredito que a burocracia é um bem precioso, uma relíquia passada de geração em geração, que deve ser acarinhada e preservada como o Lince da Malcata.
Analisemos friamente as suas vantagens:
1) ao prolongar por tempo indefinido a resolução de casos simples, a burocracia permite um segundo olhar, uma pausa reflexiva, quase um momento cartesiano de dúvida metódica: se não existisse, quantas vezes não nos arrependeríamos de precipitações, impulsividades emotivas, e afins? O que não perderíamos em espírito de análise se tudo se processasse à velocidade de um clique?
2) a burocracia permite o espírito de companheirismo: imaginem uma repartição de Finanças com apenas um trabalhador, resolvendo com preocupante eficácia todos os nossos problemas a partir da tecla do rato; se já ocupamos o segundo lugar europeu em uso de drogas para depressões e esgotamentos, o que seria dos nossos funcionários públicos se não tivessem um ombro amigo para chorar enquanto as filas se vão formando à sua frente, uma mão amiga para fumar e segurar na chávena de café durante as duas horas do lanche?
3) a burocracia é castiça: como alguém disse, Portugal não pode maltratar as suas tradições, trocando-as pela modernidade imprevisível que nos querem vender; sem contar com a Amália e com o Figo, o que nos torna famosos internacionalmente é a nossa ineficácia, para a qual a máquina burocrática tanto contribui; é, pois, de um desígnio nacional que se trata;
4) a burocracia dá de comer a milhões de portugueses: por mais que se provem as consequências nefastas da burocracia, convirá sempre lembrar que a alternativa é o desemprego para milhares de portugueses; de facto, tal como o vinho noutros tempos, a burocracia é, no mínimo, um mal necessário, alimentando famílias inteiras de assessores, adjuntos, adjuntos de adjuntos, directores-gerais, directores em geral, consultores, secretários, etc...
Por tudo isto, recomendo à minha ilustre colega bloguista que reconsidere e tente ainda evitar uma sanha persecutória que pode pôr em risco a própria estrutura social do nosso país.
3 Comments:
Sensacional, Pirata! Tiveste muitíssima graça! Fiz também um link no meu post a chamar a atenção para te virem ler...
Emiéle(desculpa isto vir como anónimo mas não me entendo lá muito bem com este sistema de comentários...)
Tou rendido... não há nada como me explicarem bem as coisas!!
Obrigado, Emiéle. Por acaso, também concordo: acho que tive uma palhaça descomunal, uma chistada colossal, por aí fora - e ainda com modéstia.
Sem querer sugerir nada que possas interpretar como uma tentativa de te chamar distraída , chamo a atenção para o facto de não teres ficado como anónima no comentário aqui por cima. De facto, assinaste "Emiéle", logo eu sei que foste tu, isto é, leio o teu pseudónimo e acredito que corresponde à entidade que assina como "Emiéle" no Afixe - blogue da minha predilecção, já agora.
Ok. Gostei muito. Volta sempre. Obrigado. Até breve.
P.F. ( depois de ter perdido os comprimidos )
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