Semiótica aplicada
O cartoon de António para o Expresso desta semana é realmente intrigante.
No desenho, vemos uma caricatura de Paulo Portas, com farda de marinheiro, como único tripulante visível de um barco com o nome "Querelle", sendo ainda evidente a forma como o autor realça a semelhança entre o mastro e uma cruz. Como título, podemos ler "Barco da moral e dos bons costumes".
Primeira abordagem: Paulo Portas é um defensor acérrimo dos princípios morais cristãos, sempre disposto a envolver-se em "querelas" polémicas, na terra ou no mar, com ou sem farda. Esta abordagem é suave e não tem piada.
Segunda abordagem: "Querelle" é um filme de Fassbinder, a partir de um romance de Jean Genet ( "Querelle de Brest" ); a personagem principal é um marinheiro que, entre outras malandrices, é violentamente sodomizado por um taberneiro negro - e, pelos vistos, até gosta da experiência. Esta segunda abordagem é muito forte, com inegáveis ganhos ao nível da ambiguidade semântica. Suscita, no entanto, algumas dúvidas no que respeita aos factores de contiguidade e semelhança que organizam a metáfora no plano conceptual, o que pode dar origem a um efeito de disseminação que, ao pretender obscurecer o significado, acaba por iluminar excessivamente o significante, recorrendo a uma imagem trivializada e invulgarmente consensual no seio da comunidade de intérpretes. Assim, a metáfora visual perde o desejado efeito de surpresa, que se vê substituido pela confirmação inelutável da vox populi , aqui subordinada à denúncia de contradições fracturantes e eticamente questionáveis, sugeridas através de um sarcasmo culto.
Esta abordagem tem mais piada, como é óbvio.
Ass. Pirata Semiótico
No desenho, vemos uma caricatura de Paulo Portas, com farda de marinheiro, como único tripulante visível de um barco com o nome "Querelle", sendo ainda evidente a forma como o autor realça a semelhança entre o mastro e uma cruz. Como título, podemos ler "Barco da moral e dos bons costumes".
Primeira abordagem: Paulo Portas é um defensor acérrimo dos princípios morais cristãos, sempre disposto a envolver-se em "querelas" polémicas, na terra ou no mar, com ou sem farda. Esta abordagem é suave e não tem piada.
Segunda abordagem: "Querelle" é um filme de Fassbinder, a partir de um romance de Jean Genet ( "Querelle de Brest" ); a personagem principal é um marinheiro que, entre outras malandrices, é violentamente sodomizado por um taberneiro negro - e, pelos vistos, até gosta da experiência. Esta segunda abordagem é muito forte, com inegáveis ganhos ao nível da ambiguidade semântica. Suscita, no entanto, algumas dúvidas no que respeita aos factores de contiguidade e semelhança que organizam a metáfora no plano conceptual, o que pode dar origem a um efeito de disseminação que, ao pretender obscurecer o significado, acaba por iluminar excessivamente o significante, recorrendo a uma imagem trivializada e invulgarmente consensual no seio da comunidade de intérpretes. Assim, a metáfora visual perde o desejado efeito de surpresa, que se vê substituido pela confirmação inelutável da vox populi , aqui subordinada à denúncia de contradições fracturantes e eticamente questionáveis, sugeridas através de um sarcasmo culto.
Esta abordagem tem mais piada, como é óbvio.
Ass. Pirata Semiótico
1 Comments:
Excelente análise
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