Desabafos de um bloguista deprimido (em mutação permanente)

Isto é muito mais difícil do que aquilo que eu esperava. Falo, claro está, de manter um blogue a funcionar. Aqui até somos três, por acaso, e a escrita vai-se repartindo de uma forma natural ( por falar nisso, onde é vocês andam, Piratas? ).
Mas não me refiro só às pequenas travessias do deserto ou às minúsculas angústias do monitor em branco. Falo de manter um determinado registo, com coerência ética e de estilo. Isso é que é difícil. É ainda mais difícil quando se tende para o ecletismo impenitente, pois nesse caso acabamos por contrariar a nossa natureza vezes sem conta. Nem todos conseguem.
Como muitas outras pessoas, tenho quatro ou cinco blogues que leio regularmente. Estão todos ali na coluna da esquerda, fora de ordem ( os primeiros são aqueles que também nos enviam leitores ). E tenho alguma inveja desses quatro ou cinco blogues, pelas razões que passo a explicar.
Por vezes, também gostava de escrever sobre cinema, como se faz aqui com frequência. Fui (sou?) um cinéfilo invertebrado (é intencional e funciona como metáfora da extrema agilidade que era necessária para, por exemplo, assistir às três sessões de Sábado na Cinemateca; ai o ciclo do Browning... e o do Whale, com o Old Dark House, o Frankenstein e o Bride of Frankenstein todos no mesmo dia... e o Michael Powell, esse portento, quase todo visto lá na Barata Salgueiro ), com gostos semelhantes aos dos outros cinéfilos inveterados, embora com algumas idiossincrasias irritantes, como convém ( Austin Powers rules! Não, estou a brincar...) Já não tenho, helás!, o entusiasmo que permite rasgos emotivos quando se fala do A Bout de Souffle, do Vivre Sa Vie, do Senso, ou do Johnny Guitar ( bem, aqui até tenho, mas só para amigos e com uma guitarra nas mãos, ou sentado ao piano - este "play it again" é muito melhor do que o outro, sem dúvida ). Já está tudo em fase de revisão e as leituras que acompanham também já foram feitas há bastante tempo, desculpem o cinismo- e não confundam com arrogância, por favor. Agora é ir acompanhando o que se vai fazendo, com maior ou menor atenção, consoante o tempo disponível. Pois é, nada disto caberia neste blogue com naturalidade, como concordarão. Um destes dias, ainda consegui meter uma imagem do Sétimo Selo a ilustrar ironicamente qualquer coisa, mas não sem um estremecimento de herético. É certo que tivemos aqui o Harpo muitos dias, mas isso era política a sério.

É assim a vida. Sniff, sniff
E a literatura? Se soubessem umas coisas que eu não quero contar, poderiam imaginar quanto me apetece por vezes fazer umas sugestões ou apresentar umas hipóteses hermenêuticas para este ou aquele poema. É verdade...Snif
Bem, mas vou lendo o que se publica aqui e aqui, com renovado prazer e admiração. Anda para aí nos arquivos um poema do cummings, que calhou a propósito já não sei de quê, e mais não cabe.
Já nem falo da música, que é para não começar para aqui a chorar.
Esta posta, por exemplo, vai ficar a destoar, eu bem sei. Este é um blogue de palhaçada, de chacota, de chiste. E mais nada! A única desculpa é que o país anda todo deprimido. Só isso é que me salva de parecer um bloguista sensível ( que horror!). Ou um bloguista sério - abominação!

Resta-me dizer que ninguém me obrigou a adoptar este registo. Snif . Foi de livre vontade e com espírito de missão, para servir a nossa vetusta pátria. Snif

( Ah! e se soubesse desenhar, gostava de ter um blogue assim, sem dúvida! Reparem que até estava a dobrar lá na coluna da gajada... )
Sniff...

Posfácio
Aos leitores que experimentaram todos os links desta posta: sois uns santos! Deixai o vosso nome ou alcunha na sala de terapia, por favor. O processo de canonização começará brevemente.
Se não reconheceram alguma coisa, perguntem ao Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, que ele sabe tudo e já leu os índices de todos os livros publicados desde o Código de Hamurabi.