A temperatura sobe...o Bloff fica sério
Há coisas levadas da breca! Então não é que o João, do Bota Acima, ficou tão zangado com a gajada do Bloff que até nos tirou da coluna dos links! E não era lá para baixo, não senhor, era logo nas Visitas Compulsivas. Tenho que admitir que fico triste. Bem, há coisas piores. Talvez nem fique assim tão triste, vendo bem.
Ora, é que eu continuo a manter que não existe qualquer intenção racista na posta que provocou esta discussão. Nem compreendo bem como é que isto atingiu tal dimensão em...cinco horas (?), enquanto eu estava a fazer uma coisa rara nestes dias de calor: a trabalhar.
Assim de repente, passo a relatar o que eu penso sobre o assunto.
Encontrarão no Bloff, se procurarem, muitos textos malandrecos sobre variadíssimos assuntos. Tentem encontrar um texto abertamente racista, por favor - oferecemos como prémio uma viagem a S. Tomé e Príncipe, para duas pessoas, com tudo pago ( não vale rasurar este ponto e acrescentar "anti-racista", pois isso vão mesmo encontrar...).
Mas quem procura, encontra: se eu me dedicar a procurar expressões vagamente "racistas" em qualquer texto, tenho a certeza de que vou encontrar - isto é, expressões que eu posso descontextualizar e torcer para as apresentar como racistas - ou elitistas, ou regionalistas, ou o diabo a sete. Aliás, ao usar a expressão "língua de preto", o João Tunes está a fazer uma coisa que eu nunca fiz ( talvez entenda que tem mais direito a fazê-lo do que eu, o que também seria um sintoma curioso...).
Mais até, está a sugerir que a simulação do português falado por africanos adquire imediatamente uma conotação pejorativa que diminui o falante - sem ser assim, como explicar que entenda a frase utilizada na tal posta como tendo a intenção de "denegrir a fala «preta» de Mantorras"(sic)? Denegrir?! Só numa lógica maniqueísta de quem ainda vê o mundo a preto e branco, pensando que tudo o que "o branco" diz ironicamente sobre "o preto" é uma manifestação da sua superioridade racial ou civilizacional - essa não compro, desculpem lá. Acusem-me de fazer piadas fáceis ou gratuitas, se quiserem, mas fiquem por aí.
Os argumentos utilizados nos comentários fizeram-me imediatamente pensar que talvez a lucidez tivesse ido de férias mais cedo. Perguntava o João se faríamos a mesma coisa a propósito de um branco, dando como exemplo o novo Sec. de Estado da Educação e as suas calinadas ortográficas num certo blogue. Ó João, já o tínhamos feito quando formulou a sua pergunta. Não viu? Pois, acontece. As pessoas precipitam-se. Mas o que é que isto prova? Que não fazemos distinções? De facto, não fazemos. O João é que faz.
Havendo ainda tantas formas de racismo violento praticadas por esse mundo fora, como entender que haja quem se dedique à exegese de textos inofensivos, que têm a mera pretensão de dar origem a um sorriso ou, para os mais ambiciosos, a uma gargalhada, por mais disparatados que sejam? Lamento dizê-lo, mas só contribuem para perpetuar o estado vil das coisas, para salientar o que é aparente mas inócuo, em detrimento do que é efectivamente preocupante. Pior ainda, alimentam esse mesmo racismo que dizem combater, pois perpetuam um estado de desconfiança permanente, um nervosismo de guerra fria - há quem viva disso, é verdade... Eu dispenso. É uma questão de educação. Talvez até uma questão geracional, pois já vivi a maior parte da minha vida num país democrático, embora com feridas profundas que alguns teimam em manter abertas. Para o bem de quem? Não sei, mas talvez o sentido da sua vida dependa de se sentirem cercados por inimigos mortais. Talvez a atribuição do ódio e do desprezo ao outro justifique a imagem de paladinos em que gostam de se rever. Causas...e coisas.
Por tudo o que ficou exposto acima, eu ( Pirata ex-CEO ) só me contento com um pedido de desculpa. Pensando melhor, nem com isso. A posta que o João Tunes publicou - uma ampliação do comentário que aqui tinha deixado cinco horas antes - é injusta, ofensiva, inane, e fundada em pressupostos falsos e falácias quase demagógicas . Os termos nos quais se refere ao processo mental que o levou a escrevê-la demonstram uma espécie de paternalismo arrogante e salazarento que eu sinceramente não esperava encontrar no Bota Acima: "Dei-lhe a oportunidade de emendar o erro. Não abdicou.(sic)"?!! Não sabia que o João tinha feito um ultimato, peço desculpa. Como ainda não sei qual foi o erro, continuo a abdicar. Também abdicarei de o ler - já me aconteceu com o Expresso e o hábito era mais antigo...- e retribuo a gentileza de o retirar da coluna aqui da esquerda.
Por vezes, até compreendo que algumas pessoas se fartem disto. Não é pelos adversários. É por quem só lê o que quer ler.
Boas férias.
3 Comments:
Caros piratas,
Plagio algumas questões que se poderiam colocar ao senhor JT do BA e que por lá se encontram num comentário :
1- Onde é que viste sinais de ódio racial ?
2- Pões nos outros ideias próprias ?
3- Sabes onde nasci e que cor de pele tenho ?
4- Sabes o que é o verdadeiro racismo ?
Elsa
Ora boas! :)
Foi com grande tristeza que constatei que dois dos três blogs que acompanho diáriamente (o outro é o Barnabé!) entraram numa espécie de conflito em virtude d'uma "posta" (como aqui lhe chamam) que a meu ver não tem ponta de maldade nenhuma! Eu que sou um grande admirador do Sr. João pelos textos que este escreve diáriamente no seu blog, não posso deixar de manifestar aqui o meu descontentamento com o que ele escreveu acerca do post sobre o Mantorras! Aposto que durante a sua vida ja contou e ouviu várias anedotas sobre alentejanos, negros, loiras entre outros..e não criticou nem foi criticado negativamente por isso! Infelizmente quer o racismo, quer a xenofobia são uma realidade nos dias que correm.. mas não têm propriedades autocolantes. Não se pode pegar numa qualquer situação e começar a disparar indiscriminadamente rótulos, etiquetas e autcolantes apenas por dedução ou porque se presume que...
Este comentário por razões democráticas será colocado em ambos os blogs em causa.
Manter-me-ei atento.
Pedro P.
Caros leitores,
Eu desconfio que o calor deve ter qualquer coisa a ver com isto tudo. O suor escorre pela testa, desce pelos olhos, turva a visão, enfim, a impaciência agudiza-se.
Nós andamos a recarregar baterias, que isto de nos obrigarmos a ter piada todos os dias é um bocado cansativo. Talvez por esta razão, contrariamos a nossa natureza e levamos algumas coisas mais a sério. Isto passa.
Até lá, confiemos no nosso novo governo e oremos, irmãos.
Dominus vobiscum.
Abraço,
Pirata (ex-CEO)
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